Eu sou o melhor gajo do mundo a
investir na bolsa, isto porque sou como os velhos com o tempo húmido e antes de
qualquer dia mau nos mercados, sinto uma ligeira dor no tornozelo que me ajuda
a realocar o capital, e isto começou quando fui jogar à bola com uns gajos da
Goldman Sachs que estavam em Portugal para caçar gajos pobres num latifúndio
alentejano e houve um deles que me deu uma porrada no tornozelo com umas botas
que eram bordadas a platina e, senti logo o meu corpo a tremer, como o Peter
Parker quando foi mordido pela aranha e ficou sem as dioptrias todas e a partir
daí fiquei com uma astúcia financeira tal, que os esclarecimentos que a CMVM me
pede são na ótica da aprendizagem e não da arbitragem, estilo: estou a pensar
investir numa empresa de desodorizantes em França, o que é que achas? E é por
estas e por outras que eu fui o primeiro gajo no mundo a poder emitir
obrigações seguras a título particular, tendo oferecido como colateral uma
noite com uma vizinha minha que já está toda torta e a procura superou a oferta
em sete vezes, tal é a confiança que os mercados depositam em mim, tanto que a
gaja agora só tem agenda lá para dezembro.
Friday, February 06, 2015
Monday, February 02, 2015
Eu sou o melhor gajo do mundo a cuidar de bebés tanto que última vez que um bebé bolsou no meu colo foi no Optimus Alive de 2012 e foi porque os Snow Patrol começaram a tocar, que os putos babam-se todos mas não são parvos e há mães que vêm do estrangeiro só para me pôr os miúdos no colo, como uma a gaja que veio da Madeira e que dizia que o filho era a encarnação do diabo, só porque o gajo dizia algumas cenas em latim (que para mim é apenas um sinal de eloquência) e incendiava gatos com o olhar e mal o puto aterrou no meu colo, começou logo a rir como quem diz: eu conheço este gajo de algum lado; e sempre que ele começava a aparvalhar, eu espetava-lhe com o “Pires de Lima”, que não é mais do que falar de forma enrolada, acentuando as vogais, repetindo sempre a última frase do discurso e ás tantas estabeleci uma confiança tal com ele, que até lhe dei as minhas chaves de casa para brincar e o que é fato é que até hoje não fui assaltado, o que prova que o ser humano é essencialmente bom e que Rousseau ganha a Hobbes em qualquer dia da semana e a mãe do gajo ainda me pediu para gravar umas frases feitas no telemóvel, estilo: “Sai de cima dos canteiros” ou “Isso são diuréticos. Mete os dedos à boca!” só para ele sentir a minha autoridade, mesmo no estrangeiro e acho que o gajo agora está impecável e já nem come bolotas.
Thursday, January 29, 2015
Eu sou o melhor gajo do mundo a jogar xadrez, tanto que quando jogo com
outra malta, dou-lhes a possibilidade de restringir os movimentos das minhas
peças, um bocado como o Tong Po fez no "Kickboxer" quando começou a aviar
o Van Damme só com os cotovelos, e os gajos ficam todos malucos e até metem
dinheiro e géneros na coisa tal é a confiança, tanto que agora tenho a casa
cheia de plantas trepadeiras e um Opel Trigra com néons na garagem, o que é uma
cena fixe para o mecânico do carro, que pode relaxar e beber um copo enquanto
olha para o chassis da viatura ou inventariar as manchas de sémen que por lá se
encontram, mas para mim acrescenta pouco valor e ganhei-o num jogo contra o
filho de um imigrante ucraniano que era virgem e usava óculos e ganhei-lhe só
com um rei, com a estratégia do jogo da cobra dos telemóveis antigos, isto
porque colocava a malta toda dele atrás de mim até que os entrelaçava numa
esquina do tabuleiro, matando-os um a um com gritos de guerra mais ou menos
escabrosos e o gajo ficou de tal maneira triste que depois me vi forçado a
pagar-lhe um lanche na condição do gajo comer ou um bolo rei, ou um bolo rainha, ou um bispo ou um xadrez mas o gajo não quis e ainda chorou mais um
bocadinho até que lhe propus um dobro ou nada e o gajo alinhou, tanto que agora
tenho dupla nacionalidade e um cachorro que só responde com o acenar de uma
salsicha.
Friday, December 13, 2013
Eu devia ser o único gajo do mundo autorizado a falar do Nélson Mandela (o meu homónimo alegadamente bonzinho), isto porque acompanhei de perto toda a sua vida, incluindo a fase da prateleira, em que o gajo andava com t-shirts góticas e tinha borbulhas que pareciam vulcões de enxofre e sei que ele não era tão fixe como a malta diz e é isso que aqui venho testemunhar.
A alcunha: muita gente trata-o por MADIBA sem saber que a alcunha lhe foi colocada no liceu como acrónimo para MAn who DIdn’t BAthe, isto porque o gajo acabava as aulas de educação física e nem sequer ia ao balneário, ia direto para a aula de Inglês, onde lia o Triunfo dos Porcos do Orwel com uma mise en scéne tão realista que a professora começou a espalhar canfora pelos cantos da sala só para a malta conseguir manter o pequeno almoço no bucho;
O mau vinho: o gajo bebia como um veterano de guerra e que o diga a Graça Machel, que quando a conheci era uma caucasiana de 50 quilos, e sofreu mais com ele em duas semanas, que com as piadas do Samora durante toda a vida;
O ambiente: o gajo não separava o lixo, aliás nem conseguia distinguir bem entre o amarelo e o verde, tanto que, uma vez, quando eramos miúdos, o apanhei a comer uma azeda ao contrário e pensei se este gajo acabar o nono ano, vou a Fátima e tenham em atenção que estávamos numa aldeia sul-africana;
O cárcere: toda a gente acha que foi com grandes atos de afirmação pessoal que o gajo sobreviveu aos duches da prisão, mas um amigo meu que esteve dentro com ele (assaltou uma loja de circuitos de vigilância em Pretória) diz-me que o gajo urinava no duche e que, tomava vitaminas do complexo B para tornar a urina fluorescente e assim assustar os sodomitas, que, como qualquer pessoa normal, não gostam de porcalhões;
O antagonista da vida: o homem detestava bébés. Também não ia à bola com cães pequeninos, mesmo aqueles que são vestidos pelos donos. É preciso dizer mais?
Friday, November 08, 2013
Eu sou o melhor gajo do mundo a jogar ao macaquinho do
chinês, mesmo quando jogo contra malta de Alfama (mais difícil de eliminar pela
via “Vi-te os dentes”), isto porque consigo intercalar a inércia de um Stephen
Hawking com o repentismo de um Jackie Chan, tanto que da última vez que joguei,
cada vez que a gaja que estava a apanhar se virava, eu tinha uma nova cagadela
de pombo no casaco e mais vinte cêntimos numa lata de salsinhas Nobre usada,
que nem sei de onde apareceu, tal o meu nível de imobilidade, e mesmo assim
consegui acabar a cena antes que o Chico Gago dissesse “Brócolos” e isto tudo
sob o olhar atento do senhor Pires, antigo melhor gajo do mundo a jogar ao
macaquinho do chinês, que alegadamente engravidou uma gaja enquanto esta contava
até 3 (não há testemunhas, mas há um puto que, com vinte anos, atira fezes ás
pessoas e tem um metro e vinte (se isto não é um macaquinho do chinês então não
sei (curto bué parêntesis))), tamanha a subtileza e agilidade do homem, só que
o Parkinson já lhe escorria pela família e agora, para lhe tirar fotografias
como deve ser, só pousando a câmara naquelas máquinas que calcam a calçada,
porque se não aparece todo desfocado, tanto que na última fotografia de grupo,
pensava que ele era o anjo de guarda de alguém, mas se aquela malta tivesse
anjos da guarda, eu teria que numerar os meus ou criar mnemónicas relacionadas
com autores russos.
Friday, October 18, 2013
Eu sou o melhor gajo do mundo a encaracolar laçarotes de
presentes e digo isto antes do natal, antes que apareçam aqueles lojistas
sazonais que, por terem formações de dois ou três dias com tesouras fiscars e laços
de chiffon, acham que conseguem reproduzir peças de arte como aquela que eu
criei na minha última visita à Sephora, quando fui comprar um presente para a
minha chavala, que é asseada e corta as unhas e, a partir de uma fita preta
frouxa, desmaiada sobre o embrulho, criei um bucket negro que parecia a axila
do Bonga, densa e cheia de espirais, que até a gaja que estava a atender começou
a bater palmas em crescendo, como naquele filme – Namorada aluga-se – e quando
olhei novamente para ela, parecia um daqueles palhaços que vejo nos meus sonhos, com a
maquilhagem toda borrada de tanto chorar e quando saí da loja, o alarme tocou
violentamente, mas ao invés do tradicional toque “agarra que é ladrão” explodiu
uma melodia que parecia Wagner e ainda me perguntaram se tinha ticket do parque
para validar, que me davam estilo parqueamento vitalício, com a possibilidade
de atravessar o carro em diagonal no quadriculado do estacionamento, mas eu ando
bem é de transportes públicos, até porque sou o único gajo do mundo que tem o L-1234,
que me dá acesso a todas as linhas ferroviárias (incluindo as mineiras), a carros
particulares anteriores a 2001 e ao casino chinês que funciona por debaixo da
estação de metro de Arroios.
Friday, October 04, 2013
No outro dia, chegou aqui um gajo ao trabalho e, com a mesma confiança que disparou um “Boas!” (nunca conheci um gajo que dissesse “boas!” e que tivesse todos os dentes da frente ou as patilhas quadriláteras) disse que era o melhor gajo a arrumar a loiça da máquina, e que poupava imensa energia e o camandro e mais uma ou outra tirada de gente adulta e eu passei-me e disse-lhe, não só que ele tinha um bocado de coentros nos dentes, que supus ser do jantar, já que o único gajo que come coentros ao pequeno almoço é o Popeye e por engano e apontei para a parede lateral do meu cubículo, onde orgulhosamente ostento o meu diploma de melhor gajo do mundo a arrumar loiça na máquina, passado pela minha chavala, que uma vez me viu a dispor a loiça de tal maneira, que coloquei uma bola de ping pong a circular na plataforma de cima e ela, não só tocou em todas as peças de loiça que lá jaziam, como desceu para plataforma de baixo, tocou em todos os pratos e talheres, mandou três peças de dominó abaixo, fechou a cápsula do detergente, ligou a máquina e saiu à Indiana Jones, mesmo antes do fecho programado da tampa e toda esta mise en scène foi inspirada nos twists melodramáticos do Gogol, que para alem de ter sido um escritor brilhante, foi o primeiro gajo do mundo a poder dar nome a um motor de busca, mas na altura a net era um luxo da aristocracia mercantil, que, com modems de 56k, apenas conseguia descarregar imagens de plebeias seminuas à velocidade de uma gestação.