Friday, October 18, 2013

Eu sou o melhor gajo do mundo a encaracolar laçarotes de presentes e digo isto antes do natal, antes que apareçam aqueles lojistas sazonais que, por terem formações de dois ou três dias com tesouras fiscars e laços de chiffon, acham que conseguem reproduzir peças de arte como aquela que eu criei na minha última visita à Sephora, quando fui comprar um presente para a minha chavala, que é asseada e corta as unhas e, a partir de uma fita preta frouxa, desmaiada sobre o embrulho, criei um bucket negro que parecia a axila do Bonga, densa e cheia de espirais, que até a gaja que estava a atender começou a bater palmas em crescendo, como naquele filme – Namorada aluga-se – e quando olhei novamente para ela, parecia um daqueles palhaços que vejo nos meus sonhos, com a maquilhagem toda borrada de tanto chorar e quando saí da loja, o alarme tocou violentamente, mas ao invés do tradicional toque “agarra que é ladrão” explodiu uma melodia que parecia Wagner e ainda me perguntaram se tinha ticket do parque para validar, que me davam estilo parqueamento vitalício, com a possibilidade de atravessar o carro em diagonal no quadriculado do estacionamento, mas eu ando bem é de transportes públicos, até porque sou o único gajo do mundo que tem o L-1234, que me dá acesso a todas as linhas ferroviárias (incluindo as mineiras), a carros particulares anteriores a 2001 e ao casino chinês que funciona por debaixo da estação de metro de Arroios.

Friday, October 04, 2013

No outro dia, chegou aqui um gajo ao trabalho e, com a mesma confiança que disparou um “Boas!” (nunca conheci um gajo que dissesse “boas!” e que tivesse todos os dentes da frente ou as patilhas quadriláteras) disse que era o melhor gajo a arrumar a loiça da máquina, e que poupava imensa energia e o camandro e mais uma ou outra tirada de gente adulta e eu passei-me e disse-lhe, não só que ele tinha um bocado de coentros nos dentes, que supus ser do jantar, já que o único gajo que come coentros ao pequeno almoço é o Popeye e por engano e apontei para a parede lateral do meu cubículo, onde orgulhosamente ostento o meu diploma de melhor gajo do mundo a arrumar loiça na máquina, passado pela minha chavala, que uma vez me viu a dispor a loiça de tal maneira, que coloquei uma bola de ping pong a circular na plataforma de cima e ela, não só tocou em todas as peças de loiça que lá jaziam, como desceu para plataforma de baixo, tocou em todos os pratos e talheres, mandou três peças de dominó abaixo, fechou a cápsula do detergente, ligou a máquina e saiu à Indiana Jones, mesmo antes do fecho programado da tampa e toda esta mise en scène foi inspirada nos twists melodramáticos do Gogol, que para alem de ter sido um escritor brilhante, foi o primeiro gajo do mundo a poder dar nome a um motor de busca, mas na altura a net era um luxo da aristocracia mercantil, que, com modems de 56k, apenas conseguia descarregar imagens de plebeias seminuas à velocidade de uma gestação.