Eu sou o melhor gajo do mundo a encaracolar laçarotes de
presentes e digo isto antes do natal, antes que apareçam aqueles lojistas
sazonais que, por terem formações de dois ou três dias com tesouras fiscars e laços
de chiffon, acham que conseguem reproduzir peças de arte como aquela que eu
criei na minha última visita à Sephora, quando fui comprar um presente para a
minha chavala, que é asseada e corta as unhas e, a partir de uma fita preta
frouxa, desmaiada sobre o embrulho, criei um bucket negro que parecia a axila
do Bonga, densa e cheia de espirais, que até a gaja que estava a atender começou
a bater palmas em crescendo, como naquele filme – Namorada aluga-se – e quando
olhei novamente para ela, parecia um daqueles palhaços que vejo nos meus sonhos, com a
maquilhagem toda borrada de tanto chorar e quando saí da loja, o alarme tocou
violentamente, mas ao invés do tradicional toque “agarra que é ladrão” explodiu
uma melodia que parecia Wagner e ainda me perguntaram se tinha ticket do parque
para validar, que me davam estilo parqueamento vitalício, com a possibilidade
de atravessar o carro em diagonal no quadriculado do estacionamento, mas eu ando
bem é de transportes públicos, até porque sou o único gajo do mundo que tem o L-1234,
que me dá acesso a todas as linhas ferroviárias (incluindo as mineiras), a carros
particulares anteriores a 2001 e ao casino chinês que funciona por debaixo da
estação de metro de Arroios.
Friday, October 18, 2013
Friday, October 04, 2013
No outro dia, chegou aqui um gajo ao trabalho e, com a mesma confiança que disparou um “Boas!” (nunca conheci um gajo que dissesse “boas!” e que tivesse todos os dentes da frente ou as patilhas quadriláteras) disse que era o melhor gajo a arrumar a loiça da máquina, e que poupava imensa energia e o camandro e mais uma ou outra tirada de gente adulta e eu passei-me e disse-lhe, não só que ele tinha um bocado de coentros nos dentes, que supus ser do jantar, já que o único gajo que come coentros ao pequeno almoço é o Popeye e por engano e apontei para a parede lateral do meu cubículo, onde orgulhosamente ostento o meu diploma de melhor gajo do mundo a arrumar loiça na máquina, passado pela minha chavala, que uma vez me viu a dispor a loiça de tal maneira, que coloquei uma bola de ping pong a circular na plataforma de cima e ela, não só tocou em todas as peças de loiça que lá jaziam, como desceu para plataforma de baixo, tocou em todos os pratos e talheres, mandou três peças de dominó abaixo, fechou a cápsula do detergente, ligou a máquina e saiu à Indiana Jones, mesmo antes do fecho programado da tampa e toda esta mise en scène foi inspirada nos twists melodramáticos do Gogol, que para alem de ter sido um escritor brilhante, foi o primeiro gajo do mundo a poder dar nome a um motor de busca, mas na altura a net era um luxo da aristocracia mercantil, que, com modems de 56k, apenas conseguia descarregar imagens de plebeias seminuas à velocidade de uma gestação.